Como Afonso Roitman: os avanços da ciência para tratar pacientes com leucemia
Reportagem do jornal O Globo entrevista coordenadora do REDOME para repercutir a novela Vale Tudo
Personagem Afonso Roitman foi diagnosticado com leucemia mieloide na novela Vale Tudo. Reprodução Globoplay
Uma das tramas inéditas do remake da novela Vale Tudo, no ar atualmente na TV Globo, é o quadro de leucemia mieloide vivido por Afonso Roitman (Humberto Carrão). Na história, o triatleta, filho da vilā Odete Roitman, é surpreendido por uma vertente bastante agressiva da doença e precisará passar por um transplante, além de sessões de quimioterapia. Assim como Afonso, cerca de 11,5 mil brasileiros são anualmente diagnosticados com algum tipo de leucemia, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Para essas pessoas, a ciência avança numa esperada revolução que passa por transplantes e novas drogas, mas que ainda tem muito a caminhar.
O transplante de medula, que é na verdade um transplante de células-tronco, figura como um dos pontos centrais desse tratamento e é geralmente indicado para pacientes com análise de risco de moderada a alta. Assim como a doação de outros tipos de órgãos e tecidos, encontrar um doador é peça fundamental para o procedimento.
Até a possibilidade de pesquisar um doador num banco de medula é uma novidade das últimas décadas. Danielli Oliveira, coordenadora do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME), ligado ao SUS, lembra da mudança de paradigma promovida pelo banco.
“Se o primeiro Afonso Roitman, da novela de 1988, tivesse tido leucemia, ele não teria acesso a um registro de doadores. Nos anos 1980 e 1990, os registros ainda estavam começando. O registro brasileiro começou em 1993. Em São Paulo. Cinco anos depois, ele passou para o Ministério da Saúde e começou a integrar a política de transplantes no Brasil”, explica.
Atualmente, o REDOME conta com cerca de seis milhões de doadores, sendo o terceiro maior registro no mundo. Há, porém, um trunfo em relação a registros de medulas internacionais. Justamente a miscigenação da população brasileira, que permite que pessoas de diferentes origens consigam encontrar doadores compatíveis com mais facilidade.
“Eu ousaria dizer que o Afonso encontraria um potencial doador no Brasil!”, sugere Danieli, ao comentar a trama da novela, em que o personagem não consegue achar um doador compatível no País e parte para busca no exterior.
Uma vez encontrada uma pessoa com potencial de doador no banco, alguns passos são necessários para que a doação efetivamente aconteça. É fundamental que os dados de quem planeja doar a medula estejam atualizados no sistema e que a pessoa esteja em boas condições de saúde. A chance de encontrar um doador, ressalta Danielli, é bem alta. A estimativa é que 90% dos que precisam consigam achar os doadores.